segunda-feira, 28 de maio de 2012

Diálogos Sem Sentido

   Bom, para situar todos da situação, após ler um texto, muito bem escrito, por sinal, de um amigo queridíssimo meu, sobre a veracidade do Estado laico brasileiro, me veio a ideia de criar com ele uma espécie de coluna em forma de diálogo, em que elegeríamos um assunto, criaríamos perguntas e por fim, as responderíamos. Assim, criamos o Diálogos Sem Sentido, que, na verdade, para aqueles interessados, farão muito sentido, já que debateremos assuntos da atualidade e de cunho, preferencialmente, político e social. No meu blog constará as respostas do meu amigo, Vitor Vaz e no blog dele(http://dmsentido.blogspot.com.br/), as minhas respostas. Já adianto que, por anos de amizade e companheirismo, esses debates tendem a ser baseados em bons argumentos, seriedade e um pouco de informalidade, afinal, isto é um blog. Espero que gostem!



ABORTO







IroniadeMaria.: Ser Legal é diferente de ser a favor da prática?


VitorVaz: Considerando que vivemos em uma democracia, os direitos de uma pessoa não podem afetar o de outra, certo? A partir disso o direito de uma pessoa de ser contra o aborto não pode afetar o direito de outra pessoa a abortar, visto que separadas essas ações não concernem ou afetam em nada qualquer outra pessoa. Uma pessoa que é “contra” o aborto, por si mesma, não faria ou recomendaria a outra pessoa que fizesse um aborto, mas ela deve respeitar o direito de uma pessoa que queira faze-lo, independente dos motivos que ela tenha para tal.


 I.M.:Por que é importante legalizar o aborto?


VV: O aborto é uma prática que acontece, e uma questão de saúde pública, independente de ser legal ou não. Assim, a legalização do aborto serviria para evitar que mulheres morram se submetendo a operações arriscadas de aborto, em clínicas clandestinas, e também para recomendar que elas coloquem o filho para adoção, ao invés de abortarem.


I.M.:A mulher tem o direito ao poder total de decisão sobre o seu corpo?


VV: Roe vs Wade foi um caso marco para a discussão do aborto nos EUA, apesar de haver muita polêmica em cima dele, onde foi decidido pelo direito da mulher de abortar (em linhas gerais). Desse caso surgiram duas “definições”: pró-escolha e pró-vida, as quais eu devo falar depois. O importante é saber que o primeiro grupo é o que se preocupa com os direitos da mulher, e visto que a gravidez e suas consequências afetam principalmente ela, a escolha de terminar ou continuar a gravidez é dela, e somente dela. Para mim faz todo o sentido que seja assim.


 I.M.:Até onde a prática é benéfica?


VV: Não vejo benefício ou malefício na prática. Existem casos clínicos, como um feto com anencefalia, em que ela é recomendável (no exemplo citado até necessária e talvez até obrigatória em um local civilizado). Em outros casos é simplesmente a opção de ter um filho ou não.


 I.M.:As práticas, hoje conhecidas, são as mais apropriadas ou devidamente esclarecidas?


 VV: No caso dos lugares em que a prática é legalizada, e existe um protocolo para tal situação, imagino que a prática é eficaz, embora sempre estejamos sujeitos a novas descobertas e revelações que possam melhorar/inovar o procedimento. No caso de lugares em que ela ilegal e ele é realizado em clínicas clandestinas, alguns procedimentos beiram a barbárie, e muitos tem sérias consequências caso ocorra um erro, o que não é incomum.


 I.M.:Até que ponto o feto é vida, afinal?



VV: Do meu ponto de vista, a vida começa a partir do parto, pois até então o feto era completamente dependente da mãe, e não tinha nenhuma experiência “terrena”. É difícil determinar esse tipo de coisa, muito mais achar uma definição que seja consensual a todos, mas eu vejo a vida como liberdade, ser você por você, ter consciência de você mesmo, e isso acontece após o parto. É claro que não tenho memória de meus primeiros anos, e ainda era dependente de outros seres para sobreviver, mas já pensava por mim mesmo e era livre, independentemente disso. Mas falando de vida com o aborto em questão, creio que a partir da décima semana de gestação, aproximadamente a fase em que o sistema nervoso acaba de se formar e o cérebro passa a se desenvolver mais rapidamente, não se deva considerar mais ele como opção, tendo em vista que o embrião se tornou um feto, e tem a estrutura fundamental para a vida e para a formação da consciência.


I.M.:Como funcionaria o sistema de operação do aborto, caso legalizado?


VV: Seguindo o modelo que já existe em alguns países, e julgando que eu seja o senhor supremo e benevolente da Terra, eu promulgaria que a maneira a se proceder, quanto ao aborto, seria: A mulher deve pedir a operação antes que o feto complete 10 semanas, que é aproximadamente quando se forma o cérebro do mesmo. Após o requerimento a mulher teria um aconselhamento médico e psicológico, para informar a ela os riscos do procedimento, além de aconselhar alternativas, como ter o bebê e coloca-lo para adoção. Caso a mulher ainda opte pelo procedimento, ele é realizado, também antes do período de 10 semanas de gestação. A mulher deve pedir a operação antes que o feto complete 10 semanas, que é aproximadamente quando se forma o cérebro do mesmo. Após o requerimento a mulher teria um aconselhamento médico e psicológico, para informar a ela os riscos do procedimento, além de aconselhar alternativas, como ter o bebê e coloca-lo para adoção. Caso a mulher ainda opte pelo procedimento, ele é realizado, também antes do período de 10 semanas de gestação. 


I.M.:Por que o aborto deve se tornar legal em termos de salubridade?


VV: Como já disse, o aborto é uma questão de saúde pública, e ter um sistema de saúde no mínimo excelente é um direito de todos, pelo menos segundo a constituição a qual estou sujeito. Dessa maneira, como existem pessoas que querem fazer uma operação abortiva, sem que sua vida seja posta em risco, o sistema de saúde do país deve cobrir essas situações. É claro que para isso é preciso um investimento substancial em saúde, já que aqui o sistema público de saúde é lamentável, portanto, ao se incluir o aborto, que é um procedimento um tanto quanto delicado, não pode haver um atendimento largado ou demorado (como nenhum procedimento deve ter), pois não é bem uma coisa que se possa adiar.


I.M.: Por que, de fato, a Igreja é contra o aborto?


VV: Religiões são baseadas em dogmas (verdades absolutas). No caso das igrejas cristãs consigo resumir dessa  forma: O aborto é uma forma de infanticídio, já que os cristãos acreditam que a vida começa a partir da fecundação. Assim, o aborto é uma forma de assassinato (aos olhos deles), que vai contra o quinto mandamento (da mitologia cristã, na história de Moisés): “Não Matarás”.
É estranho com eles não se importam tanto com os outros mandamentos, como não fazer imagens de adoração ou usar o nome de deus em vão, dentre outros. Também é engraçado que eles sejam contra a homossexualidade, sendo que os homossexuais são o grupo que menos fazem abortos na face da Terra...



I.M.:Se o Estado é laico, então por que a opinião da Igreja influência tão intensamente na discussão?



VV: Apesar de o estado ser laico, grande parte da população é cristã (fanática), e vários líderes religiosos; pastores e padres; inconstitucionalissimamente fazem propaganda política, além de vários candidatos políticos usarem o pretexto religioso para serem eleitos, e até criam alianças para fazerem prevalecer seus credos nas instâncias públicas. Isso mais o fato de que a justiça federal deixar impune tais ações, que em um verdadeiro estado laico seriam reprovadas e o agente de tais seria multado.Só para explicar porque igrejas não podem fazer propaganda politica, instituições religiosas são (erroneamente) isentas de pagar impostos, mas a partir do momento em que as referidas instituições fazem propaganda política, elas são vistas aos olhos da lei como uma instituição política, e perderiam os direitos de isenção fiscal (idealmente), exatamente pelo estado ser laico, e haver a separação total de religião e política.