Bom, para situar todos da situação, após ler um texto, muito bem escrito, por sinal, de um amigo queridíssimo meu, sobre a veracidade do Estado laico brasileiro, me veio a ideia de criar com ele uma espécie de coluna em forma de diálogo, em que elegeríamos um assunto, criaríamos perguntas e por fim, as responderíamos. Assim, criamos o Diálogos Sem Sentido, que, na verdade, para aqueles interessados, farão muito sentido, já que debateremos assuntos da atualidade e de cunho, preferencialmente, político e social. No meu blog constará as respostas do meu amigo, Vitor Vaz e no blog dele(
http://dmsentido.blogspot.com.br/), as minhas respostas. Já adianto que, por anos de amizade e companheirismo, esses debates tendem a ser baseados em bons argumentos, seriedade e um pouco de informalidade, afinal, isto é um blog. Espero que gostem!
ABORTO
IroniadeMaria.: Ser Legal é diferente de ser a favor da prática?
VitorVaz: Considerando que vivemos em uma democracia, os direitos de uma pessoa
não podem afetar o de outra, certo? A partir disso o direito de uma pessoa de
ser contra o aborto não pode afetar o direito de outra pessoa a abortar, visto
que separadas essas ações não concernem ou afetam em nada qualquer outra
pessoa. Uma pessoa que é “contra” o aborto, por si mesma, não faria ou
recomendaria a outra pessoa que fizesse um aborto, mas ela deve respeitar o
direito de uma pessoa que queira faze-lo, independente dos motivos que ela
tenha para tal.
I.M.:Por que é importante legalizar o aborto?
VV: O aborto é uma prática que acontece, e uma questão de saúde pública,
independente de ser legal ou não. Assim, a legalização do aborto serviria para
evitar que mulheres morram se submetendo a operações arriscadas de aborto, em
clínicas clandestinas, e também para recomendar que elas coloquem o filho para
adoção, ao invés de abortarem.
I.M.:A mulher tem o direito ao poder total de decisão sobre o seu corpo?
VV: Roe vs Wade foi um caso marco para a discussão do aborto nos EUA,
apesar de haver muita polêmica em cima dele, onde foi decidido pelo direito da
mulher de abortar (em linhas gerais). Desse caso surgiram duas “definições”:
pró-escolha e pró-vida, as quais eu devo falar depois. O importante é saber que
o primeiro grupo é o que se preocupa com os direitos da mulher, e visto que a
gravidez e suas consequências afetam principalmente ela, a escolha de terminar
ou continuar a gravidez é dela, e somente dela. Para mim faz todo o sentido que
seja assim.
I.M.:Até onde a prática é benéfica?
VV: Não vejo benefício ou malefício na prática. Existem casos clínicos,
como um feto com anencefalia, em que ela é recomendável (no exemplo citado até
necessária e talvez até obrigatória em um local civilizado). Em outros casos é
simplesmente a opção de ter um filho ou não.
I.M.:As práticas, hoje conhecidas, são as mais apropriadas ou devidamente
esclarecidas?
VV: No caso dos lugares em que a prática é legalizada, e existe um
protocolo para tal situação, imagino que a prática é eficaz, embora sempre
estejamos sujeitos a novas descobertas e revelações que possam melhorar/inovar
o procedimento. No caso de lugares em que ela ilegal e ele é realizado em
clínicas clandestinas, alguns procedimentos beiram a barbárie, e muitos tem
sérias consequências caso ocorra um erro, o que não é incomum.
I.M.:Até que ponto o feto é vida, afinal?
VV: Do meu ponto de vista, a vida começa a partir do parto, pois até então
o feto era completamente dependente da mãe, e não tinha nenhuma experiência
“terrena”. É difícil determinar esse tipo de coisa, muito mais achar uma
definição que seja consensual a todos, mas eu vejo a vida como liberdade, ser
você por você, ter consciência de você mesmo, e isso acontece após o parto. É claro
que não tenho memória de meus primeiros anos, e ainda era dependente de outros
seres para sobreviver, mas já pensava por mim mesmo e era livre,
independentemente disso. Mas falando de vida com o aborto em questão, creio que
a partir da décima semana de gestação, aproximadamente a fase em que o sistema
nervoso acaba de se formar e o cérebro passa a se desenvolver mais rapidamente,
não se deva considerar mais ele como opção, tendo em vista que o embrião se
tornou um feto, e tem a estrutura fundamental para a vida e para a formação da
consciência.
I.M.:Como funcionaria o sistema de operação do aborto, caso legalizado?
VV: Seguindo o modelo que já existe em alguns países, e julgando que eu
seja o senhor supremo e benevolente da Terra, eu promulgaria que a maneira a se
proceder, quanto ao aborto, seria: A mulher deve pedir a operação antes que o feto complete 10 semanas,
que é aproximadamente quando se forma o cérebro do mesmo. Após o requerimento a
mulher teria um aconselhamento médico e psicológico, para informar a ela os
riscos do procedimento, além de aconselhar alternativas, como ter o bebê e
coloca-lo para adoção. Caso a mulher ainda opte pelo procedimento, ele é
realizado, também antes do período de 10 semanas de gestação. A mulher deve pedir a operação antes que o feto complete 10 semanas,
que é aproximadamente quando se forma o cérebro do mesmo. Após o requerimento a
mulher teria um aconselhamento médico e psicológico, para informar a ela os
riscos do procedimento, além de aconselhar alternativas, como ter o bebê e
coloca-lo para adoção. Caso a mulher ainda opte pelo procedimento, ele é
realizado, também antes do período de 10 semanas de gestação.
I.M.:Por que o aborto deve se tornar legal em termos de salubridade?
VV: Como já disse, o aborto é uma questão de saúde pública, e ter um
sistema de saúde no mínimo excelente é um direito de todos, pelo menos segundo
a constituição a qual estou sujeito. Dessa maneira, como existem pessoas que
querem fazer uma operação abortiva, sem que sua vida seja posta em risco, o
sistema de saúde do país deve cobrir essas situações. É claro que para isso é
preciso um investimento substancial em saúde, já que aqui o sistema público de
saúde é lamentável, portanto, ao se incluir o aborto, que é um procedimento um
tanto quanto delicado, não pode haver um atendimento largado ou demorado (como
nenhum procedimento deve ter), pois não é bem uma coisa que se possa adiar.
I.M.: Por que, de fato, a Igreja é contra o aborto?
VV: Religiões são baseadas em dogmas (verdades absolutas). No caso das
igrejas cristãs consigo resumir dessa forma: O aborto é uma forma de
infanticídio, já que os cristãos acreditam que a vida começa a partir da
fecundação. Assim, o aborto é uma forma de assassinato (aos olhos deles), que
vai contra o quinto mandamento (da mitologia cristã, na história de Moisés):
“Não Matarás”.
É estranho com eles não se importam tanto com os outros mandamentos, como
não fazer imagens de adoração ou usar o nome de deus em vão, dentre outros.
Também é engraçado que eles sejam contra a homossexualidade, sendo que os
homossexuais são o grupo que menos fazem abortos na face da Terra...
I.M.:Se o Estado é laico, então por que a opinião da Igreja influência tão
intensamente na discussão?
VV: Apesar de o estado ser laico, grande parte da população é cristã
(fanática), e vários líderes religiosos; pastores e padres;
inconstitucionalissimamente fazem propaganda política, além de vários
candidatos políticos usarem o pretexto religioso para serem eleitos, e até
criam alianças para fazerem prevalecer seus credos nas instâncias públicas.
Isso mais o fato de que a justiça federal deixar impune tais ações, que em um
verdadeiro estado laico seriam reprovadas e o agente de tais seria multado.Só para explicar porque igrejas não podem fazer
propaganda politica, instituições religiosas são (erroneamente) isentas de
pagar impostos, mas a partir do momento em que as referidas instituições fazem
propaganda política, elas são vistas aos olhos da lei como uma instituição
política, e perderiam os direitos de isenção fiscal (idealmente), exatamente
pelo estado ser laico, e haver a separação total de religião e política.