terça-feira, 12 de outubro de 2010

[In]hotim

a 60 km do paraíso ( pelo menos para os belorizontinos!)

        Pressionada por fatores pessoais, me vi "obrigada" a aproveitar aquilo que a cidade a cidade ,onde moro a cinco anos, e suas redondezas tem a me oferecer. Assim descobri INHOTIM. O local fica na cidade de Brumadinho, próxima a Belo Horizonte, capital mineira. Mesmo para os que tem a felicidade de estarem ao redor da natureza com frequência, o passeio é surpreendente. Lá, além de belas paisagens e raras espécies de flores e plantas no geral, encontram-se obras de artes distribuídas em galerias. Ao chegar em Inhotim, fui recebida por um pequeno mamífero saltitante que conhecia apenas por filmes e desenhos, um esquilo. Dali, o passeio já havia sido gratificante. Felizmente, as surpresas só melhoraram. O espaço é delicioso, assim como o restaurante. Sim, o desembolso pode ser um pouco acima do seu orçamento, mas a estrutura, qualidade dos serviços e as obras das galerias são definitivamente recompensáveis. O buffet é bem diversificado, há opções para todos os gostos. O ambiente do restaurante é muito agradável, sem falar da decoração impecável. Cada canto tem um acessório característico.

        Ao iniciar o passeio pode-se observar vários assentos a caminho das galerias, todos com diferentes formatos feitos de diferentes tipos de madeira. As obras são bem criativas, tudo muito bem explicado, com placas com indicações do autor da obra, local onde mora atualmente e um texto informativo, em português, inglês e espanhol sobre o objetivo da obra em questão. Arte moderna pode não fazer muito sentido. Algumas vezes a sensação que se tem é que o artista juntou tudo o que tinha em casa e amarrou com um barbante. Entretanto, elas fazem total sentido após compreender sua mensagem. É aí que se encontra a genialidade da arte, a interpretação da realidade incômoda de cada artista. Algumas das obras expostas falam sobre aquilo que se carrega em mudanças da vida. Outras mostravam o caminho que se seguia ao sair de casa, como se fosse uma gota d'água que escorre pelo cano. Infelizmente, fotografias das exposições não são permitidas. O que, por outro lado é bom, assim aquilo que se escuta sobre o local instiga a sua imaginação e te atrai para lá.
        O passeio é recomendado para todas as idades, mas, principalmente, para quem gosta de arte ao ar livre. Ta aí, descobri meu paraíso!





domingo, 10 de outubro de 2010

Papo de cafeteria...

    "[...] Ia perdê-la, ela que se forçava a não perder nada de cultural porque assim se mantinha jovem por dentro, já que até por fora ninguém adivinhava que tinha quase setenta anos, todos lhe davam uns cinquenta e sete.." . - Interessante- pensei comigo mesmo. Perguntei ao meu amigo à minha frente se ele gostaria de mais alguma coisa, talvez um café. Ele fez sinal de satisfeito e prosseguiu com a leitura de seu livro.
     Toda semana combinávamos de nos encontrar em uma cafeteria/livraria localizada exatamente no meio do caminho entre nossas casas. Para alguns, bobeira. Para dois senhores de setenta anos aposentados, mania de velho mesmo. Discutíamos de tudo. Algumas vezes, a doce Luísa, garçonete do estabelecimento, tinha que vir e acalmar o coração dos velhos. Sabe como é, idade. Uma vez caí na besteira de me posicionar em relação a uma indignação religiosa minha. Me apeguei a ela quando fui à deliciosa cidade de Ouro Preto, no interior do estado de Minas Gerais. Não entrei em sequer uma Igreja da cidade. Visitei tudo por fora. Sabe por quê? Quando me aproximei da entrada e li que teria de pagar para entrar na Igreja fiquei horrorizado. Afinal, não é esta a casa de Deus e , sendo assim, a casa de todos? Todos com dinheiro, claro. Meu amigo veio com a justificativa de que os funcionários precisavam ser mantidos. Tudo bem. Mas, qual a real necessidade deles? Cadê os padres ou voluntários do local? E, certamente, quem trabalha para a Igreja não trabalha unica e exclusivamente para a instituição.
     Mas, lição aprendida, mudemos de assunto. Não, não se preocupe, não discutiremos política, falta saúde para isso e, com certeza, ânimo.
    -Paulo, você está bem?
    -Hmn?... Ah, sim, estou. Estava distraído, refletindo a leitura do texto.
    - E o que você está lendo?
    - Na verdade, acabei de ler. É um conto, se chama " À procura de uma dignidade", da Clarice Lispector. É um bom texto.
    - Dignidade? Hunf.. Linha de honestidade, quando bem usada, cria uma reputação moral. Acertei no assunto do texto ou nem de perto?
      - Bem engraçado Heitor. Digamos que um terço dele e só isso. Não ouse ficar convencido. Além disso, ele fala daquilo que mais persegue a nós, meu caro. Solidão, indecisão, velhice, o escuro.( risos)
     - Minha nossa Paulo. Só porque somos idosos não significa que devemos sofrer como tais. Vá, toma um café e vê se come alguma coisa.
     - Ô meu amigo. Não é a falta de comida que me atormenta. Veja a maneira que ela situa sua personagem. No início, ela está completamente encurralada, não consegue ver nada além de labirintos. E como termina? A velha implorando por uma porta de saída. Saída do passado dela, da idade em que se encontra, do destino a que ela se fadou. E o que fazer para não chegar a tal ponto?
     - Simples. Repare seus erros no início ou, simplismente, não os cometa. Aliás, melhor ainda, opte pela honestidade. Talvez, se ela tivesse sido honesta, sincera com os outros e com ela mesma, desde o início, não tivesse que estar, ao final de sua vida, procurando a tal dignidade.
     - Hunf... Acho que você estava correto, Heitor. Preciso mesmo melhorar minha alimentação. Luísa, um pãozinho de queijo, por favor!

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Uma troca mais do que justa...

    " Mal sabe ele que eu trocaria meu saxofone e minha guitarra por um dia de promessa comprida." Isso é o que o garoto de 16 anos, mais uma vez iludido pelos pais, pensava enquanto mirava seus mais novos presentes perfeitamente brilhantes, que praticamente estampavam : " Desculpa mais uma vez por não poder estar com você hoje". O garoto não conseguia entender. Nessa história, ele se sentia como o adulto e encarava os pais como os adolescentes, porque afinal, como podiam os pais pensarem que um instrumento, por  melhor que ele seja, podia substituir horas de convívio? Como pode, um adulto pensar que o adolescente não consegue distinguir entre um presente comemorativo e um pesaroso? O jovem se sentia como parte de um dado estatístico em que ele se incluía no quadro de filhos que são paparicados pelos pais que se sentem mal por terem que optar sempre pelo trabalho ao invés do próprio filho. A desculpa é sempre a mesma: " Tenta entender. Não é bom sair com seus amigos no fim de semana? Não é bom poder viajar toda vez que você quer? Não é bom ter aquele sapato legal? Não é bom ir para uma escola boa?" É bom sim. Aliás, é ótimo. Mas sabe o que é melhor ainda? Saber do que você (pai) gosta. Saber do que você (pai) não gosta. Aliás, quem é você pai? Já sei. Você é aquele Doutor engravatado que sai de casa as seis da manhã e retorna as nove da noite e vai direto para a cama dormir. Você é aquele Homem que mora na mesma casa que eu, que toma café da manhã comigo, que me dá "Bom dia..." e senta na mesa do escritório para fazer as contas dos gastos mensais familiares. Cara, é tão difícil assim largar esses papéis cheios de números e porcentagens para perguntar: "Meu filho,como você está? Vamos sair hoje?"
      Mas, sabe o que é pior ainda? Quando a consciência pesa além do normal e eles tentam conciliar a vontade com a oportunidade. Feriados. Uau, mestres em desapontamento. A história é sempre a mesma. Planos de viagens em família, vamos fazer e ir somente para onde desejamos. Ah tá, vai nessa. O feriado vai se aproximando e nada se mexe. Ninguém se movimenta. Ninguém toca no assunto. O jovem, já inquieto, desconfiado de que nada vai realmente acontecer, resolve confirmar as suas suspeitas. E o que ele ouve? Aquilo que ele mais temia: " Sinto muito, mas o papai vai precisar trabalhar. Mas não se preocupe, amanhã a gente sai pra almoçar". UAU. Nunca me senti melhor em toda a minha vida. De fato, eu nunca almoço fora.
       Chega. Sem desculpas baratas. Para com isso. Você não vê? Isso dói muito mais do que a verdade. Por que você não fala na minha cara e admite? " Não, nós vamos ficar em casa no feriado, cada um no seu canto porque eu preciso trabalhar." Pronto. Doeu? Pode ter certeza que a mentira dói muito mais, porque ela cria esperança. Esperança de que, pela primeira vez,  vou estar ao seu lado, ouvindo o saxofone e a guitarra, e não os encarando sozinho no quarto.