" Mal sabe ele que eu trocaria meu saxofone e minha guitarra por um dia de promessa comprida." Isso é o que o garoto de 16 anos, mais uma vez iludido pelos pais, pensava enquanto mirava seus mais novos presentes perfeitamente brilhantes, que praticamente estampavam : " Desculpa mais uma vez por não poder estar com você hoje". O garoto não conseguia entender. Nessa história, ele se sentia como o adulto e encarava os pais como os adolescentes, porque afinal, como podiam os pais pensarem que um instrumento, por melhor que ele seja, podia substituir horas de convívio? Como pode, um adulto pensar que o adolescente não consegue distinguir entre um presente comemorativo e um pesaroso? O jovem se sentia como parte de um dado estatístico em que ele se incluía no quadro de filhos que são paparicados pelos pais que se sentem mal por terem que optar sempre pelo trabalho ao invés do próprio filho. A desculpa é sempre a mesma: " Tenta entender. Não é bom sair com seus amigos no fim de semana? Não é bom poder viajar toda vez que você quer? Não é bom ter aquele sapato legal? Não é bom ir para uma escola boa?" É bom sim. Aliás, é ótimo. Mas sabe o que é melhor ainda? Saber do que você (pai) gosta. Saber do que você (pai) não gosta. Aliás, quem é você pai? Já sei. Você é aquele Doutor engravatado que sai de casa as seis da manhã e retorna as nove da noite e vai direto para a cama dormir. Você é aquele Homem que mora na mesma casa que eu, que toma café da manhã comigo, que me dá "Bom dia..." e senta na mesa do escritório para fazer as contas dos gastos mensais familiares. Cara, é tão difícil assim largar esses papéis cheios de números e porcentagens para perguntar: "Meu filho,como você está? Vamos sair hoje?"
Mas, sabe o que é pior ainda? Quando a consciência pesa além do normal e eles tentam conciliar a vontade com a oportunidade. Feriados. Uau, mestres em desapontamento. A história é sempre a mesma. Planos de viagens em família, vamos fazer e ir somente para onde desejamos. Ah tá, vai nessa. O feriado vai se aproximando e nada se mexe. Ninguém se movimenta. Ninguém toca no assunto. O jovem, já inquieto, desconfiado de que nada vai realmente acontecer, resolve confirmar as suas suspeitas. E o que ele ouve? Aquilo que ele mais temia: " Sinto muito, mas o papai vai precisar trabalhar. Mas não se preocupe, amanhã a gente sai pra almoçar". UAU. Nunca me senti melhor em toda a minha vida. De fato, eu nunca almoço fora.
Chega. Sem desculpas baratas. Para com isso. Você não vê? Isso dói muito mais do que a verdade. Por que você não fala na minha cara e admite? " Não, nós vamos ficar em casa no feriado, cada um no seu canto porque eu preciso trabalhar." Pronto. Doeu? Pode ter certeza que a mentira dói muito mais, porque ela cria esperança. Esperança de que, pela primeira vez, vou estar ao seu lado, ouvindo o saxofone e a guitarra, e não os encarando sozinho no quarto.
Quanto tempo não te vejo por aqui XD,
ResponderExcluirmuito legal o texto, profundo (jah percebeu que quando alguém lê um texto de um amigo, não importa qual impressão essa pessoa teve, ela sempre fala 'profundo'?)