Há quinze anos exercia aquela profissão, e há quinze anos sentia uma ansiedade incomum antes de entrar no palco. Ela amava o que fazia. A cada cinco meses assumiauma diferente identidade. Já havia sido loira presidiária que havia matado o marido com facadas. Interpretou uma ruiva em um memorável musical. O êxtase era máximo. Sentia como se o mundo inteiro estivesse ali para admirá-la por míseros sessenta minutos.
Ao terminar uma performance, sentia-se cheia de energia, um brilho no olhar e um sorriso emocionado. As cortinas se fechavam. Agora ela assumia sua identidade original. Qual era ela mesmo? Recolhia flores jogadas pelo público. Sentia um enorme carinho por alguém que nem conhecia. Dirigia-se para o camarim. Depois de tantos sucessos, havia conquistado o seu próprio. Abriu a porta e começou a remover a maquiagem. Observava o contraste de um rosto dividido entre a base e sua real cor.Admirava, indagando quem era aquela outra metade, sem brilho, sem contorno, sem a máscara. O vazio a dominava. Há segundos átras havia sido a estrela de uma multidão. Agora mal identificava aquela pessoa nas fotos coladas no espelho de seu camarim.
Seu conforto era saber que dali a dois dias encarnaria a personagem pela qual sempre esperara, a esposa de algum magnata, com direito a acesso a lugares inimagináveis.
O que separa o público do artista é um simples pano vermelho, que possui o poder de , ao mesmo tempo, transformar a pessoa em alguém poderosa e sem poder algum.
muito legal
ResponderExcluir(reading in canada uhul)